Fabrizio Buonamassa é um homem elegante que gosta de gravatas de malha de seda. É também o designer associado ao enorme sucesso relojoeiro atual da Bvlgari, a casa romana sobejamente conhecida no universo da moda. Juntamente com Jean-Christophe Babin, o enérgico CEO, tem catapultado a marca para os píncaros da relojoaria – e fomos conhecê-lo melhor numa conversa durante o Horology Forum, em Londres.
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Miguel Seabra, em Londres
Imagem acima: Fabrizio Buonamassa, o diretor criativo da Bulgari.
Fabrizio Buonamassa tem assumido o cargo de designer da Bvlgari desde 2001, e está diretamente ligado ao apuro estético de relógios como o Octo e o Serpenti. Nascido em Nápoles há 47 anos e transferido para Roma ainda jovem, Fabrizio Buonamassa vive atualmente em Neuchâtel; filho de um pai ligado ao ramo automóvel e uma mãe associada à moda infantil, começou a esboçar banda desenhada na sua juventude e, depois, passou aos carros até se inscrever no Instituto Superior das Indústrias Artísticas da capital transalpina. Depois, começou a trabalhar na Fiat, sendo que o meio automóvel o preparou para o universo relojoeiro: tanto nos carros como nos relógios, é necessário incorporar no design elementos mecânicos e utilitários. E sabe-se o nível estético atingido pela indústria automóvel transalpina… Na sequência de conversas tidas com Buonamassa no Dubai (Dubai Watch Week), em Basileia (Baselworld) e, sobretudo, Londres (Horology Forum), aqui ficam algumas das suas ideias sobre a Bvlgari, relojoaria, design e tendências estéticas no setor.
Designer industrial
«A minha paixão é desenhar objetos. Não sou (exclusivamente) um designer de relógios. Sou um designer industrial. Na minha carreira, já desenhei cadeiras, sapatos, óculos de sol, joias, carros, motas e muitas outras coisas. E, por exemplo, desenhar carros é como desenhar relógios, sendo necessário incorporar elementos mecânicos e utilitários; em ambos os casos, as restrições são o foco do projeto e o fio condutor da estética».
Fonte de inspiração
«A minha primeira fonte de inspiração é a marca. Quando temos a oportunidade de trabalhar numa marca de rico historial e capaz de fazer coisas tão diferentes ao longo do ano, é um prazer para mim e também uma grande oportunidade. Imagine-se que eu trabalhava numa empresa que fazia sempre a mesma coisa! Nunca estou satisfeito e, normalmente, quero mudar completamente o curso de um projeto, mas não é possível…»
O relógio da sua vida
«Comecei a minha carreira na Bvlgari, em 2001, e o meu primeiro sketch foi de um relógio flyback. Depois, foi um mostrador para o Octo e seguidamente uma bracelete para o Octo. Os diversos períodos da minha carreira estão muito ligados a relógios que desenhei. Alguns, foram um erro; outros, um sucesso. Isso faz parte da vida. Claro que o Octo Finissimo veio mudar completamente a perceção que as pessoas tinham da marca, e é possivelmente a minha criação mais influente – é também o meu relógio pessoal, o relógio que uso todos os dias. Tem um equilíbrio perfeito entre o peso e a forma, é refinado, rico nos detalhes; surpreende pela leveza. A ideia foi mudar completamente a abordagem às grandes complicações; para nós, um movimento automático com uma execução ultraplana é um relógio complicado. A outra premissa foi esconder um pouco um relógio fantástico, algo que fica só para nós debaixo da manga. Somos italianos, gostamos de brincar com os objetos, mas, às vezes, gostamos de ser mais discretos e pensamos: para quê usar um relógio volumoso, com muitas funções, que não iremos usar? O Octo Finissimo representa um novo passo na indústria do luxo, uma maneira diferente de usar relógio».
A evolução do Octo Finissimo
«A coisa mais difícil, depois de termos tido a sorte de conseguir um relógio bem-sucedido, é fazer uma segunda e uma terceira variante que surtam o mesmo efeito. Significa que percebemos a receita, que sabemos como usar a marca, a tecnologia e as tendências da maneira certa. Depois do titânio, fizemos a versão em aço, um aço diferente com um acabamento baço esbranquiçado, mas a versão de ouro é mesmo… uau! Não gosto de relógios de ouro, mas a versão em ouro é a minha preferida, depois do primeiro modelo em titânio – que é o pai da coleção. O acabamento da versão em ouro é joalheiro, tem um tratamento de superfície único. Fazer o Octo Finissimo foi mesmo ousado. É um produto completamente novo, com um novo tom. É o melhor relógio para representar a marca no futuro».
A novidade Octo Finissimo Chronograph
«É fácil acrescentar camadas. Mas é muito difícil retirá-las. Tentámos remover tudo o que não faz sentido num cronógrafo automático, e juntar-lhe uma função GMT. A execução ultraplana é como um carro de Fórmula 1, como um objeto militar – só necessitamos de ter o estritamente funcional da maneira certa, não há espaço para decoração ou para o que não esteja diretamente ligado à essência do relógio».
A tirania do formato redondo
«O redondo é o formato mais evidente para os relógios, muito fácil de usar. O formato de relógio mais comum para uso diário é o redondo, mesmo de uma marca conhecida. Uma espécie de relógio todo o terreno, que podemos usar em qualquer circunstância. Normalmente, o primeiro relógio é redondo, o segundo, provavelmente, também é redondo e, então, o terceiro já pode ser de forma. É também uma questão de gosto. Se me fosse dado um briefing para um relógio do dia a dia, eu desenharia um relógio redondo: é o arquétipo. Adoro o formato quadrilátero e mesmo os relógios retangulares; pode ser que sejam encarados como sendo mais sofisticados, mas acho a forma redonda perfeita – até porque a movimentação dos ponteiros é circular. Quando temos relógios de formas diferentes, existem problemas diferentes com os quais nos temos de confrontar no design e no fabrico, desde os mostradores aos movimentos».
Casas joalheiras e relógios de forma
«O redondo é a escolha mais convencional. Não a escolha da Bvlgari, que é uma casa joalheira, e brincar com as formas faz parte do nosso ADN. Começámos a testar a forma octogonal em 1971, a partir de uma coleção inspirada em moedas. E a experimentar lunetas redondas em caixas octogonais, por exemplo. A Bvlgari gosta de brincar com formatos geométricos; na joalharia, somos obrigados a trabalhar com diferentes formas, porque lidamos com joias e pedras preciosas que apresentam cortes distintos. Somos constantemente confrontados com muitas formas e obrigados a lidar com essa diversidade. Mesmo quando fazemos joias, temos de fazer algo que impressione, que choque as pessoas. A profundidade da Bvlgari tem precisamente a ver com o modo como usa as formas. Para uma casa joalheira, é mais fácil idealizar outro tipo de formas, enquanto uma companhia relojoeira suíça está mais presa a uma indústria tradicional, a certo tipo de herança e a uma abordagem em relação ao design».
O efeito Jean-Christophe Babin
«A Bvlgari é uma casa joalheira que faz relógios muito bonitos e emblemáticos. E mantém-se como casa joalheira. Mas, com o Jean-Christophe Babin como CEO, o departamento relojoeiro teve uma aceleração incrível. Antes, éramos joalheiros que fazíamos relógios. Agora, somos joalheiros que fazemos relógios de maneira diferente. A ideia de desenvolver a evolução dos nossos produtos começou um bocadinho antes de Jean-Christophe, mas quando chegou, foi a cereja no topo do bolo. Ele conhece muito bem a indústria relojoeira, o mercado relojoeiro».
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