Mergulhando na sua história marítima, a Officine Panerai ressurgiu em força na década de 90 e foi fundamental tanto para a moda dos relógios sobredimensionados como para a instauração do estilo neo-vintage. Saiu do nicho dos aficionados puros e ganhou fama mundial sem perder um carácter exclusivo. Hoje em dia, é muito mais do que uma marca de culto de inspiração rétro-militar: é uma manufatura integrada com tecnologia de ponta.
_
Por Miguel Seabra, em Neuchâtel
Nasceu em 1860 como um pequeno negócio familiar dirigido por Giovanni Panerai, que comercializava e reparava relógios na Ponte alle Grazie, em Florença. Atualmente, é uma marca de culto à escala global, com uma produção própria praticamente integrada numa manufatura de última geração em Neuchâtel.
A caminho do seu 160.º aniversário, a Officine Panerai contribuiu decisivamente ao longo das últimas duas décadas e meia para o estabelecimento da chamada relojoaria contemporânea — mas com raízes profundamente históricas e até politicamente complexas.
Se foi a Primeira Guerra Mundial que tornou socialmente aceitáveis os relógios de pulso, até então confinados a alguns pulsos femininos, a Segunda Guerra Mundial massificou essa adesão ao pulso devido a imperativos práticos; ao longo da década de 30, assistiu-se a um recrudescimento da atividade militar na Europa e a evolução da instrumentação passou a ser acompanhada de relógios à altura, nomeadamente enormes modelos de mostrador preto em sanduíche e indicadores luminosos radioativos para poderem ser lidos em situações precárias de luz.
Várias marcas apresentaram variantes de aviador e algumas assinaram contratos governamentais para equipar as forças aéreas. Em Itália, o ditador Benito Mussolini foi em sentido inverso: em 1936, encomendou à firma da família Panerai um modelo para a marinha que fosse dotado de uma grande capacidade estanque e ótima legibilidade nas águas mais turvas.
Os primeiros protótipos Radiomir apresentavam então uma luminescência patenteada em 1916 e uma caixa com 47 mm de diâmetro, começando a produção dois anos mais tarde. O Mare Nostrum surgiria em 1943. O Luminor, em 1950, e o monumental Egiziano (60 mm), em 1957. (…)